Assunto Flatulento
Ao iniciar este texto me deparei com a seguinte dúvida: a palavra pum trata-se de uma típica onomatopéia, ou seja, ela reproduz fielmente o som da natureza, por outro lado, a gramática da língua portuguesa manda que o plural das palavras terminadas em “m” seja feito retirando-se o “m” e colocando-se um “ns” em seu lugar, assim, o plural de pum seria puns, mas por tratar-se de uma onomatopéia, me surgiu a dúvida: será que ao trocarmos o “m” pelo “ns” não estaríamos retirando o caráter onomatopaico da palavra e, em função disso, ela deixaria de reproduzir o som da natureza? Pelo sim e pelo não, para satisfazer os dois lados, decidi escrever pums.
Outro dia eu estava pensando: pra onde será que vão os pums? Pra onde será que vão todos os pums do mundo? Será que eles se dissipam na atmosfera e acabam adubando o ar? Ou será que eles se infiltram na terra e acabam por compor o magma da terra, o que explicaria as erupções vulcânicas e os geisers? Sabemos que existem estâncias hidro-mineirais com água sulfurosa que tem cheiro de ovo podre, não seria este um indício? Há ainda a hipótese deles escaparem da atmosfera terrestre e sairem por aí na galáxia provocando a fuga desesperada dos cometas e o nocauteamento das estrelas cadentes.
Se considerarmos que a Terra possui cerca de 6,5 milhões de habitantes e que cada um deles é capaz de produzir em média facilmente 0,1m de pum/dia principalmente se considerarmos feijoadas, chucrutes, comida chinesa, japonesa e árabe, consumidos pelo mundo afora, teríamos então que diariamente a população da Terra produz aproximadamente 650.000m de pums/dia. Considerando Natais, Anos Novos, Anos Novos Chineses, Thankgivings days, Carnavais e outros eventos mundiais, esta média poderia ser facilmente aumentada, mas, para efeito de cálculo científico, consideremos apenas os 650.000m/dia.
Facilmente se pode ver que um volume desses produzido diariamente, em muito pouco tempo acabará por se tornar um problema ecológico de proporções inimagináveis. Está comprovado cientificamente que os pums são compostos em quase toda a sua totalidade de gás metano altamente inflamável e o seu acúmulo nessas proporções pode gerar uma gigantesca bomba incendiária muitas vezes mais potente que uma bomba de napalm, este fato, nos próximos anos deverá merecer da comunidade internacional uma atenção redobrada, inclusive com o envio de inspetores internacionais aos países como o Brasil que produzem pums em excesso de modo a preservar a camada de ozônio e propor medidas como a fabricação de cuecas e calcinhas com catalisadores ou a realização em massa de cirurgias de vasectomia esfincter-anais.
Dia desses eu estava a bordo de um elevador que me levaria ao 32º andar, além de mim havia um casal: ele engravatado e ela alinhadamente vestida e cheirosa, um cidadão gordinho e baixinho que depois descobriu-se, era de nacionalidade portuguesa, uma mulher muito gorda e um rapaz magro, alto e barbudo com cara de hippie. Por volta do 15º andar, mais precisamente entre o 15º e o 16º, o elevador parou inesperadamente, o engravatado acionou a campainha de alarme e ficamos todos ali aguardando a solução do problema para prosseguirmos viagem, enquanto aguardávamos, disfarçadamente nos entreolhávamos, nesta pesquisa sorrateira pude ver, por exemplo, que o engravatado teria sérios problemas quando chegasse em casa, uma vez que havia uma tremenda marca de batom em seu colarinho do lado oposto ao de onde estava a mulher que o acompanhava, o hippie exalava um leve odor de marijuana, a gorda suava à cântaros e o português começava a se impacientar. Passados alguns minutos sem que o elevador se movesse, de repente todos se entreolharam com ar acusatório, aquele pum parecia ter sido fabricado num biodigestor com requintes de crueldade tal era o seu teor de sulfureto, o fedor era terrível, a esta altura a mulher gorda foi formalmente acusada pelo engravatado em função de seu estado de transpiração, ela negou terminantemente, os olhos então se voltaram para mim que não pude me defender inicialmente, pois estava prendendo a respiração, abandonei a tática e afirmei veementemente que processaria todos aqueles que ousassem me acusar, todos então olharam para o hippie que deu uma sugestão revolucionária que, se usada em nível macro, poderia salvar o planeta, disse ele: porque nós todos não respiramos fundo juntos e gastamos logo esse peido?
Eu, quase desmaiando, disse: vocês vão me desculpar, mas eu não vou poder respirar a minha parte disso, algum herói terá que respirar a minha parte.
De repente todos se voltaram para o português que, ardilosa e sorrateiramente, se escondia atrás da mulher gorda; diante da postura do lusitano, ficou fácil de deduzir que era ele que estava com a “mão amarela”, o engravatado então se encheu de brios e avançou de dedo em riste para cima do português e desferiu raivoso: como é que o senhor faz um negócio desses na frente da minha esposa?! O português não se fêz de rogado e mandou:
- O senhoire me desculpe ô pá, eu não sabia que ela estava na veiz!
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