Efê

Desta vez eu vou fazer um pouco diferente, vou contar a história de Francisco Fernandes Ferreira Filho que era filho de Francisco Fernandes Ferreira e de Fátima Flávia Fontana. Francisco, ao contrário dos outros Franciscos, não era conhecido como Chico, e sim como Fran. Fran tinha uma característica muito peculiar, ele só falava palavras iniciadas com a letra “f”, uns diziam que era porque a mãe dele comera framboesa frita quando estava grávida de Fran, outros juravam de pés juntos que isso se devia a uma anomalia genética que o clã Fernandes Ferreira carregava há séculos, mas os especialistas garantiam que era frescura mesmo. Aonde ia, Fran só falava com “f”, na farmácia, por exemplo, só comprava Fenergan, Flaquinol e Fosfosol; no açougue pedia filet, fígado ou fraldinha, na padaria, o pão era sempre o francês.

Ele adorava fórmula 1, fliperama e futebol, aliás, futebol Fran até jogou quando era jovem, mas os colegas de time não gostavam muito dele porque ele só queria saber de fintas e firulas; das frutas, ele preferia figo ou framboesa, tinha fimose desde pequeno, mas recusava-se terminantemente a operar só porque fimose começava com “f” e ele jamais perdia nada que fosse escrito com f”, foi daí inclusive que nascera a idéia dele mandar tatuar na sua nádega direita a figura de Fred Flintstone que ele carrega até hoje.

Fran era torcedor fanático do Flamengo, na tv só assistia o Fantástico ou o canal Futura e, por motivos óbvios, escolhera Florianópolis para viver, embora fosse nordestino, e foi lá, na capital catarinense, que ele conheceu sua esposa Filomena com quem teve três filhos: Fernando, Fábio e Felipe, aos vinte e dois anos, mandou seu dentista extrair-lhe os dois incisivos mediais para poder falar as palavras com “f” produzindo ventuosidades buco-laterais, disse ele ao dentista: Fausto, faça-me falar fazendo flatulências”. Certa vez, Fran foi assaltado e foi ferido no fígado, o ladrão desferiu-lhe um violento golpe nesta região, “foi forte”, disse ele ao delegado; após semanas internado no hospital fazendo fisioterapia, Fran foi fazendo flatulências, fazendo, fazendo, fazendo..., fez flatulências fenomenais, fazia flatulências fortes, fracas, fedorentas, formidáveis, forçadas, ficou fétido.

Fazendo tratamentos alternativos com florais, Fran conseguiu curar-se e voltou a fazer somente as flatulências buco-laterais. Em 1990, em um feriado de finados, Fran estava a passeio em Foz do Iguaçu e foi a um restaurante almoçar, como ele andava sempre muito bem vestido, o garçom, ao vê-lo entrar, aproximou-se rapidamente na esperança de auferir uma boa gorjeta ao final, acomodou Fran em uma das melhores mesas da casa e então disse a Fran:

- bom dia cavalheiro, aqui está o cardápio, fique à vontade. Minutos depois, Fran fez um sinal chamando o garçom que se aproximou prestimoso, já empunhando o bloco de anotações:
- pois não doutor, o que vai ser? Fran então fez o pedido:
- feijão fradinho, farofa, fígado, fritas, filet e frango frito.
- e para beber?
- Fanta. O garçom não tirava o olho de Fran, afinal, o aspecto dele prometia uma boa gorjeta e assim que percebeu que Fran havia terminado de comer, o garçom se apresentou solícito:
- satisfeito cavalheiro? Gostaria de um cafezinho? Como o senhor gosta do seu café?
Lacônico, Fran disse:
- forte fervendo.
Em seguida, já fungando no cangote de Fran, o garçom, perguntou:
- o que achou do café cavalheiro?
Com cara de quem não gostou muito, Fran respondeu:
- frio e fraco. Ao que o garçom contrapôs:
- desculpe doutor, mas eu vou me redimir na sobremesa, o que o senhor gostaria para sobremesa? Fran:
- figo flambado.
Percebendo que Fran só falava palavras com “f”, o garçom decidiu puxar conversa para constatar se a sua suspeita era verdadeira e então começou:
– desculpe doutor, mas eu acho que eu estou lhe conhecendo de algum lugar, de onde o senhor é?
– Fortaleza.
– qual é mesmo o seu nome?
– Francisco Fernandes Ferreira Filho.
– uma vez eu acho que o senhor esteve aqui e me parece que o senhor estava com a sua sua esposa, como é mesmo o nome desa?
– Filomena.
– éh! É isso mesmo! Eu me lembro que o senhor tinha um negócio, eu acho que era alguma indústria, o que era mesmo?
– fui ferreiro. – e o que o senhor fazia?
– ferro, ferrolho e ferradura; ferramentas, fechaduras, flanges e forjas.
Vendo que não tinha jeito e que Fran só falava mesmo com a letra”f”, o garçom fez então a seguinte proposta:
– doutor! Se o senhor falar mais sete palavras com a letra “f”, o senhor pode ir embora sem pagar a conta.
Fran sorrindo então mandou:
– foi formidável, faça fiado, fico freguês.
E se levantou e foi se encaminhando para a saída, quando ele já estava na porta de saída do restaurante, o garçom gritou para ele:
– hei! Doutor! O senhor só falou seis palavras.
Ao que Fran respondeu rápido, antes de evadir-se:
– fod&*#-se!

Modernos

O mundo moderno vem exigindo cada vez mais que sejam desenvolvidos novos instrumentos, aparelhos e aparatos para fazerem frente às necessidades que essas modernidades impõem, a cada dia que passa novas soluções têm que ser pensadas para, de alguma forma, minimizar o efeito da velocidade com que os fatos acontecem.

Pensando nessas coisas, resolvi aderir a esta onda de modernidades e invenções e comecei a planejar e desenvolver objetos e instrumentos de grande utilidade para a vida moderna. Inicialmente tentei estabelecer uma parceria com as Organizações Tabajara, mas eles, prepotentemente, julgando-se os maiores inventores da face da terra, simplesmente me ignoraram. Desta forma, desenvolvi sozinho os meus próprios produtos que entrarão no mercado em breve.

Observando alguns locais de trabalho que possuem salões muito grandes onde trabalham diversas pessoas e mesmo os menores que têm computadores voltados para a porta de entrada da sala e considerando também que tanto homens como mulheres recebem diariamente e-mails contendo homens e mulheres pelados e, algumas vezes, coisas mais picantes, e aqui “picantes” não é eufemismo, além daqueles que, ou por perversão ou por tesão mesmo, gostam de navegar e visitar sites abjetos, mas devido a pudores enrustidos, normas das empresas ou até vergonha mesmo não podem acessar suas sacanagens sossegados; resolvi, pensando nessa gente, que geralmente é gente boa, lançar no mercado o monitor lambe-lambe. Aqui cabe uma pequena explicação para o pessoal mais jovem que não presenciou a existência dos lambe-lambes. Antigamente havia nas praças das cidades, fotógrafos que tiravam fotos 3x4 que utilizavam uma máquina, geralmente uma caixa de madeira sobre um tripé, que disparava um foco de luz pela queima de magnésio que o fotógrafo segurava na mão direita levantada enquanto visualizava o fotografado, escondido atrás de uma cortina preta para não permitir a entrada de luz.

O monitor lambe-lambe funcionaria com uma cortina preta acoplada ao monitor do computador através de velcro e, embaixo da qual o usuário, e só ele, teria acesso às imagens exibidas na tela, sem se preocupar com a presença de estranhos ou bicões incovenientes e de modo a preservar a privacidade de tarados, taradas ou simples voyeurs. Alternativamente a este adereço e destinado a pessoas mais discretas, embora não menos apreciadoras de sacanagens virtuais, desenvolvi o retrovisor de monitor que é colado dos lados do monitor do computador de modo a permitir que o usuário perceba a aproximação de pessoas indesejadas naquele momento, diga-se de passagem que este instrumento utilíssimo, por ser mais discreto do que o monitor lambe-lambe, pode ser usado também em residências para maridos perceberem a chegada de esposas e para mulheres perceberem a chegada de maridos, afinal ninguém é de ferro, não é mesmo?

Porém, a mais revolucionária de todas as minhas modernas invenções e que considero que poderá me deixar milionário, sem dúvida nenhuma, é o capuz 190, o capuz que protege a identidade do seu usuário. O capuz 190 consiste em um capuz com griffe, um capuz desenhado por estilistas que poderá ser encontrado em vários tamanhos e tonalidades, nos gêneros masculino e feminino. A idéia é espalhar pelas cidades do mundo inteiro, quiosques onde se poderia alugar o capuz 190, estes quiosques seriam colocados em lugares estratégicos já previamente estudados, eles ficariam situados a cerca de 100 m da entrada de motéis, boates GLS, cines pornôs, sex shops, campos de nudismo, locais de paradas gay, meretrícios, casas de massagens, clube de mulheres etc e, ultimamente, com o fim do voto secreto no congresso nacional, ele também poderia ser utilizado nas votações daquela casa legislativa.

O capuz 190 feminino pode vir com motivos de oncinhas, tigresas, zebras, e até halloween para as que não puderem ou não quiserem ser identificadas em hipótese alguma. Como pretendo espalhar franquias do capuz 190 pelo mundo inteiro, eles deverão sofrer variações de acordo com os usos e costumes do lugar, assim, em Portugal, por exemplo, os quiosques de aluguel dos capuzes 190 poderão ficar localizados nas portarias dos próprios estabelecimentos freqüentados pelo público-alvo, já nos países escandinavos, com certeza, não haverá mercado para esta invenção maravilhosa, nos países árabes eles teriam o design das burcas e em países como o Brasil ele teria a tonalidade madeira para combinar com a cara-de-pau dos usuários.

Lembre-se que a modalidade aluguel foi escohida, pois no caso de venda, o usuário ou teria que jogar o capuz fora depois do uso, o que seria um desperdício, ou teria que levá-lo para casa, o que, convenhamos, colocaria por terra o objetivo dos capuzes 190. Quanto à legalidade do uso dos capuzes 190, não se preocupem, usuários em potencial, pois já pesquisei na legislação e nela não existe qualquer proibição ao uso de capuzes em público, pois este é considerado apenas uma peça do vestuário.

PS: Aos espertinhos e aproveitadores: não tentem copiar os meus inventos, pois eles já estão todos registrados e patenteados no CNPQ, IBAMA, Vigilância Sanitária, SIF e o Diabo à 4, neste último em duas versões, com e sem lubrificação.

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