As Profissões Insuspeitas

Existem profissões que pela sua natureza, tradição e peculiaridade, entraram para o anedotário popular como verdadeiras matérias primas de piadas, gozações e afins. Algumas delas, além das características já descritas, primam também pelo linguajar próprio que só os iniciados e/ou simpatizantes entendem.
Neste contexto então temos o profissional número um deste tipo de análise que é o advogado, muitas vezes acompanhado do subtítulo de “de porta de cadeia”, este símbolo da esperteza nacional, suspeito até de ter criado a Lei de Gérson, algumas vezes se dispõe até a fazer sustentação oral na Vara (viiige!).
Temos também os valorosos arquitetos que dão beleza às criações cartesianas dos engenheiros, mas que são por eles rebaixados a uma categoria intermediária entre a engenharia e a decoração de ambientes, tanto é assim que afirma-se nos meios acadêmicos das ciências exatas que arquiteto seria aquele cidadão que não é suficientemente macho para ser engenheiro nem suficientemente bicha para ser decorador.
Os contadores obviamente não poderiam ficar de fora deste inventário (do verbo inventar) sócio-político-econômico-...-profissional. Me lembro do dia em que cheguei ao escritório de um conhecido contador (pejorativamente chamado de guarda-livros) e ao me aproximar da sua mesa, encontrei-o concentrado e abstraído na arte de extrair o líquido do bruto, ele, sem me olhar e sem sequer saber de quem se tratava, sem tirar os olhos do computador, desferiu a singela frase: “não me atrapalhe agora que eu estou glosando!”
A área da saúde é pródiga em profissões insuspeitas: os dentistas, por exemplo, atendem os seus pacientes/clientes/fregueses munidos de máscaras que lembram os assaltantes de diligências dos filmes de bang-bang de antigamente, demorei algum tempo para descobrir o motivo pelo qual os “tiradentes” tomaram emprestadas as máscaras dos assaltantes de diligência, mas finalmente descobri, o motivo é o verdadeiro tratamento de canal que eles fazem nos pacientes na hora de apresentar a conta. Ainda na área da saúde, a medicina cujo pai é Hipócrates (nominho sugestivo esse hein!) é dividida em especialidades dentre as quais temos a clínica geral (especialidade?), temos também o médico proctologista (conhecido como Senhor dos Anéis), o gastroenterologista (olha o preço de novo aí!), o otorrinolaringologista (profissional não procurado pelos bêbados por estes não conseguirem pronunciar o nome e nem pela Justiça que é, segundo se apregoa, cega, surda e muda), o ginecologista que foi aquele que levantou a tese de que Deus seria um péssimo arquiteto por ter projetado, na mulher, o esgoto muito próximo à área de lazer e o urologista que pelos OVNIs que segura deveria se chamar ufologista, afinal de contas, no final do dia ele deve deixar escapar um sonoro “ufa!!!” Enfim, o médico é o profissional que, por se especializar cada vez mais sobre partes cada vez menores do corpo humano, no limite acabará sabendo tudo de nada. Para encerrar a área da saúde temos o profissional mais dedicado da área cuja atividade é um verdadeiro sacerdócio, o laboratorista de análises clínicas que trabalha entre áscaris lumbricóides, taeneas e oxiuros em expediente integral, ou seja, antes e depois do almoço.
Há também o jornalista que é aquele que publica tudo o que ouve, não o que houve além de “saber”, literalmente, tudo sobre todos os assuntos; os farmacêuticos que são verdadeiros manipuladores; os mecânicos, inventores da rebimboca da parafuseta; os fiscais, que são os profissionais mais fiscalizados do planeta; os sacrossantos promotores de justiça, donos e guardiães da ética e da moral.
Mas o mais folclórico de todos os profissionais é mesmo o advogado, em algumas rodas menos cultas chamado de adevogado, é aquele que consegue tirar leite de pedra, é aquele que se julga tão importante que, enquanto os outros profissionais têm Conselho, os advogados têm Ordem. Certa vez um sujeito foi acusado de roubar um valiosíssimo quadro da Santa Ceia que havia no interior de uma Igreja de uma cidade do interior, após entendimentos com a justiça, o acusado aceitou devolver o quadro em troca da diminuição da pena, ocorre que o quadro devolvido pelo espertalhão, além de Jesus Cristo e dos doze apóstolos, continha também, no lado direito da tela, escondidinhos atrás de Judas Iscariotes, dois indivíduos estranhos com os cabelos cortados em estilo militar e trajando roupas bem diferentes da indumentária utilizada pelos apóstolos. Não é que o advogado do acusado conseguiu provar que a tela era verdadeira e que os dois intrusos eram Tony e Doug do Túnel do Tempo.

Por isso pessoal, pense bem antes de entrar com uma profissão...