Ressaca-feira

O dia seguinte ao porre...

Sete horas da manhã, o relógio desperta parecendo gargalhar da minha figura patética estirada na cama, após um fim de semana de dar medo em Baco, Dionísio, Vênus e todos os deuses do Olimpo e dos terreiros de macumba. Meu olho direito acorda e, num esforço hercúleo, vê meu braço esquerdo dar um violento cala-boca no despertador atrevido, junto todas as forças que me restaram para erguer aquele recipiente ainda cheio de feijoada, churrasco, cerveja, vinho e cachaça que outrora foi meu corpo, consigo o feito, sentado na cama percebo que o litro d'água que levei comigo para o leito como meu último desejo, é agora uma simples garrafa vazia.

7:30h, agora a água quente cai sobre aquele recipiente e eu tento lembrar quem sou eu, onde trabalho, se trabalho e porque estou ali embaixo d'água, o que outrora eu chamava de cabeça, agora parece uma bola oca com um romboedro de fogo embebido em suco de urtiga dentro dela e que ao ser chacoalhada provoca dores terríveis que se assemelham as de gigantescos cálculos renais em forma de estrela, o olho esquerdo acorda assustado.

8 horas, as reminiscências começam a voltar em pequenos fragmentos desconexos, quase estilhaços, dirijo-me agora para o trabalho na direção que os estilhaços me apontaram, minha boca produz um líquido betuminoso que quase me impede de falar, chego ao local de trabalho que não me parece muito familiar, mas algumas pessoas me cumprimentam, o que significa que fui reconhecido, logo, devo estar no lugar certo, sento no lugar para onde o meu faro me levou, agora quem não quer falar sou eu, pois não quero compartilhar o meu hálito de biodigestor com os circunvizinhos.

9 horas, acaba de estourar a 3ª Guerra Mundial dentro de mim, ouço bombas e tiros de canhão pipocando dentro daquilo que outrora fora um organismo, algumas explosões são tão violentas que chego a olhar em volta para ver se algum vizinho de trabalho as percebeu, mas parece que eles todos estão vivendo suas próprias 3ªs Guerras Mundiais e sequer olham em minha direção. Reúno todas as forças mentais que me sobraram e penso: “hoje vou iniciar aquele regime que prometi que começaria segunda-feira passada, nunca mais vou beber pelo resto da minha vida”.

10 horas, a minha dieta de Engov e sal de frutas continua, aliás eu nunca entendi muito bem porque isso se chama sal de frutas, será que existe sal de legumes ou de verduras? Eu nem sequer sabia que as frutas eram salgadas. A guerra continua, mas agora com requintes de crueldade e desobedecendo todas as convenções internacionais, produzindo gases tóxicos e regurgitações ácidas, fico imaginando os resíduos ácidos que terei que expelir, eles poderão provocar queimaduras de 1º, 2º e 3º graus, esse pensamento me dá medo.

11 horas, se aproxima a hora do almoço, a guerra continua, os destroços do campo de batalha estão prontos para serem ejetados, mas eu ainda não me sinto preparado psicologicamente para o parto, as contrações aumentam, vou ao banheiro do local de trabalho para fazer uma sondagem inicial do terreno, mas parece que outras guerras mundiais já desovaram ali os seus destroços e eu sou obrigado a fugir apressado abortando, primeiramente, a missão de reconhecimento e, em segundo plano, a desova propriamente dita.

13:30h, no almoço comi apenas alface num ritual quase macabro, no qual eu discutia veementemente com o meu esôfago que teimava em tentar, contra a minha vontade, devolver a mercadoria. Ah! Que beleza a parte da tarde, os pensamentos começam a clarear, a guerra parece ter tido um armistício, talvez seja porque eu, ardilosa e sorrateiramente, aproveitando-me do fato de ter voltado mais cedo do almoço por causa do jogo de empurra-empurra entre a minha boca e o meu estômago tendo como intermediário o esôfago e da densidade demográfica estar em baixa, tenha consumado o parto que ameaçava precipitar-se desde cedo, foi horrível! Pensei que precisaria de cesariana, mas foi à parto normal mesmo, no entanto, ardeu tanto que pensei comigo mesmo: “acho que vou precisar de um Modess”.

15:00h, estou em franca recuperação, planejo dar uma corridinha no final da tarde para queimar os resíduos tóxicos que ainda transitam no meu organismo e toma-lhe água! Acho que já entornei dois ou três baldes, meus resíduos líquidos melhoraram muito, eles agora têm a tonalidade verde esmeralda, bem diferente do marrom glacê de de manhã.

18:00h, estou quase zero quilômetro, está na hora da saída, um companheiro de trabalho passa por mim já portando a sua pastinha de ir embora e me convida: “vamo tomá uma cervejinha?” e eu respondo resignado: “vão bora!”

20 comentários:

Tati disse...

Acho que pelo fato da ressaca durar apenas um dia, a gente acaba repetindo a dose no outro final de semana... risos!!!!

Euzer Lopes disse...

"Nunca antes na história deste País" alguém foi tão feliz em contar "the day after" com tanta maestria e requintes de detalhes como você o fez.
Quando citou a guerra mundial estar começando, jurei que ia ler que a primeira bomba era o telefone tocando.
Parabéns!

Dane... titi..tiago..Besta... disse...

kkkkkkkkk... esse é o espírito..xD
mto loko véi..

Sinceramente? disse...

Nunca vi alguem detalhar um pós -porre tão bem na minha vida!
Bom post!

*Procurando por futilidades?Visite o meu!:D

Sandra Oliveira disse...

nusga
chegei a ficar com peninha
de vc!!
rs

mto bom

1 disse...

Cara, ontem eu tomei umas é e isso ai mesmo que acontece. To na 7:30.

Frank Cunha disse...

Seria um blog com dicas do mundo virtual ou ensinando como ficar de ressaca?

hehehe..Zueira..
mais que texto hein?
Mais um dia,tu nao aguentaria...

Abraços.
http://polvoloko.blogspot.com/

Jullyana Albuquerque disse...

Um ótimo manual, ainda mais pra quem nunca passou por um porre.

Anônimo disse...

Oxii,
axo q todas as sextas feiras, depois de uma semana de trabalho, todos tomam cervejaa e no dia seguinte, acordam no porre rs

Unknown disse...

HAUIhAOUIhAI
amei.

"meu deus me responde uma coisa
me responde que eu quero saber
por q? por q existe a ressaca meu deus?
por q? por q? por q?

(Didixy) Conquistadores disse...

Muito bom mesmo. Totalmente criativo.

3 guerra mundial , muito bem colocado, um colapso de sentimentos eu diria.

TOdos os dias estamos nesse guerra.

Esperamos que não final, tenhamos um final feliz

Camila disse...

Caramba, realmente essa foi uma forma bastante engraçada e interessante de se descrever um dia de ressaca... rsrsrsr muito detalhista, bom...
Abraços!!!
http://ccbds.zip.net/

Anônimo disse...

Hello. This post is likeable, and your blog is very interesting, congratulations :-). I will add in my blogroll =). If possible gives a last there on my blog, it is about the Câmera Digital, I hope you enjoy. The address is http://camera-fotografica-digital.blogspot.com. A hug.

Igor Thiago disse...

'vão bora!' <- kkk
Sou assim tb =D
Beberei enquanto tiver figado :)

Abraços e sobre a dica di tutos sobre Gimp, vou ver se consigo juntas umas coisas maneiras :)
Abraços



Puts!

Raquel Verardi disse...

Gostei!!

Unknown disse...

já tinha feito um comentário antes... :P
mas repito. Muito boa a história.

Anônimo disse...

Nussa!!
Jamais bebi e nao me apetece...
Mas gosto é gosto,kkkkkkk

Johnny M. disse...

Essa é a crônica de uma guera muito particular. Ficou massa.

Julieny Rodrigues disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Julieny Rodrigues disse...

Caracaa...

Quem ouve uma história dessa fica até com pena do indivíduo!!


É tanto detalhe que vc acaba se colocando no lugar dele...


mt Legal!!

Seguidores

Copyright 2006 H4ck3rik.com - GPL License